RESÍDUOS OU INSUMOS? A DIFICULDADE DAS EMPRESAS DE RECICLAGEM EM APRESENTAR SEU PROCESSO PRODUTIVO.
- André Montanha Fontanelli - Biólogo/Gestor de
- 18 de abr. de 2015
- 3 min de leitura
A consciência da quantidade de resíduos produzidos pela nossa sociedade tomou um rumo novo já há algum tempo. Agora estamos nos esforçando mais do que nunca para realizar os 3 R’s, Reduzir, Reutilizar, Reciclar. Criou-se um mercado de “resíduos”, ou seja, esses “resíduos” deixaram de ser meros resíduos e começaram se valorizar. Poderia se comparar essa valorização a uma alta de preço da soja devido à descoberta de uma nova utilidade para a commodity.
Toda esta movimentação econômica entretanto, não foi acompanhada por algumas empresas ou até órgão governamentais menos flexíveis e burocráticas que estão apresentando uma certa dificuldade para absorver a forma como o processo dessas empresas de reciclagem é realizado. Aqui o objetivo é pontuar uma dificuldade em particular, mas sem grandes ambições de se aprofundar na discussão: A dificuldade em se apresentar os conceitos de insumo e resíduos das empresas de reciclagem.
Em empresas que trabalham com produção no conceito mais usual da palavra, resíduos e insumos são mais simples de se distinguir, tendo em vista que ela recebe um insumo que é um produto de outra empresa (Ex. Ferro, Parafuso, Folhas de Papel, Troncos) para produzir algo. Quando se observa as empresas envolvidas nos processos de reciclagem, estes conceitos podem se confundir. Nesse processo podemos observar que o insumo é um resíduo, mas o resíduo de OUTRA empresa, conforme mostra o organograma.

Portanto, ao invés das empresas envolvidas em reciclagem tomar o caminho de receber produtos, ela vai pela opção de utilizar resíduos como insumos.
Para melhor explicar é mais fácil contextualizar. Imaginemos uma empresa que enfarda aparas de papel e comercializa os fardos. Com essa base é possível levantar algumas questões:
1.Qual é o insumo desta empresa?
2.Qual é o produto desta empresa?
3.Quais são os resíduos desta empresa?
Como insumo pode-se entender o material básico consumido pela empresa, que para a nossa empresa hipotética é “Aparas de Papel”. Importante observar que este insumo é um resíduo, mas não para a nossa empresa.

Como produto vamos definir aqui o que é vendido ao fim do processo produtivo que por sua vez gera receita e permite que a empresa mantenha suas atividades. Em nossa empresa, o produto é o fardo de papel.


Agora com relação aos resíduos gerados por essa nossa empresa. A dificuldade a que me referi no início deste texto é de reconhecer que os papéis não são os resíduos DESTA empresa. Para ela os resíduos são pequenas peças de plásticos, arames e outros tipos de materiais que vem junto nas cargas de papel e não são utilizados como mercadoria para a empresa, estes por sua vez são encaminhados para destinação final de acordo com a legislação ambiental.

Assim, podemos observar que, sem analisar o processo particular de cada empresa, é impossível determinar o que é ou não resíduo. O fato de olhar julgando as aparas de papel, ou qualquer outra substância, como resíduo desde o início, sem que haja uma observação crítica sensata da produção já nos afasta do objetivo da reciclagem. Claro que em alguns casos, a substância a ser transformada pode estar contaminada por substâncias perigosas e então deverá ser tratada com os mesmos cuidados que os resíduos, entretanto, a realidade de cada processo produtivo que nos mostra como deverão ser tais julgamentos.
Agradecemos à LagriSul Comércio de Papel pela concessão das imagens.